Aos 81 anos, essa escritora, professora e pesquisadora capixaba tem uma reconhecida trajetória na construção de uma reflexão sobre o cinema brasileiro
(foto: Luara Monteiro)
Com uma história que representa a grande força das mulheres, Bernadette Lyra será homenageada na noite de encerramento da 14ª Mostra Produção Independente – Resistências, evento que acontece dos dias 02 até 05 dezembro, no Cine Jardins, em Vitória. Em um momento em que a nossa educação pública se vê ameaçada pela atual política federal, homenagear uma pesquisadora em cinema é uma forma de incentivar a defesa da educação e da formação na área do cinema.
Nascida em Conceição da Barra em 1938, Bernadette Lyra é formada em Letras pela Ufes, especializou-se em cinema e fez pós-doutorado na Sorbonne, em Paris. Conhecida por criar o termo e dar luz ao Cinema de Bordas, Lyra também foi a nossa primeira Secretária de Cultura do Espírito Santo e, em 2018, foi considerada Pesquisadora do Ano, pela SOCINE (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual), da qual é membro fundadora.
Primeiro amor: o cinema
A carreira literária de Bernadette Lyra, com onze obras publicadas, às vezes se sobrepõe a sua trajetória como pesquisadora, mas poucos sabem que a sua primeira paixão foi o cinema. Quando com apenas cinco anos de idade frequentava o pequeno cinema de seu avô, Manoel da Cunha, às margens do Rio Cricaré, em Conceição da Barra.
“Era muito misterioso ver aquelas imagens em preto e branco se movendo magicamente. Eu me lembro muito bem do cinema, tinha bancos como os bancos de praça, a tela era um lençol esticado e quando o rio enchia as pessoas tinham que passar pela lama para chegar ao cineminha do Seu Cunha, como era chamado. E eu me via mergulhada nesse ambiente mágico de sonhos”, lembra Bernadette Lyra.
Após esse primeiro encantamento, veio a fase da cinefilia quando já adolescente frequentava as matinês do Cinema do Glória, em Vitória. Para Bernadette, começar a estudar a sétima arte foi um caminho natural. Ainda como Professora de Letras, na Ufes, no final da década de 1960, ela continuou frequentando cineclubes e a vontade de escrever sobre os filmes só crescia. “Foi quando fui fazer meu mestrado em Comunicação na UFRJ, que tudo começou mesmo. A Estação Botafogo ainda estava em formação e eu logo me associei e passei a participar das reuniões e junto com elas muitos debates e ideias, e eu me embrenhei de vez na área”, conta.
Cinema de Bordas
Com um doutorado sobre cinema marginal, pela USP, Bernadette decidiu que seu caminho na pesquisa seria estudar as “vias tortas”, como ela mesma gosta de falar. Depois de levar o cinema brasileiro marginal para a França, durante o seu pós-doutorada na Sourbone, ela se voltou para o Cinema de Bordas. Tudo começou quando assistiu os filmes do Seu Manoelzinho e passou a mapear pelo Brasil essas produções de baixo orçamento que recriam filmes famosos à sua própria maneira com pitadas regionais.
Por meio desse trabalho, Bernadette foi curadora de Mostras de Cinema, tendo organizado e feito a curadoria de seis Mostras de Cinema de Bordas junto ao Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. Além de já ter sido jurada de Mostras e Festivais de Cinema em todo o país, tais como o Festival de Cinema de Tiradentes e Festival de Cinema de Vitória.
Atualmente, Lyra é professora emérita da Ufes e também a mais nova integrante do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades (PósCom-Ufes). Além de uma escritora com prêmios literários obtidos por todo o país, tem trabalhos em antologias, revistas e jornais do Brasil e do exterior. Como pesquisadora de cinema publicou recentemente “O jogo dos filmes” (2018).
Uma realização da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas-Metragistas do Espírito Santo (ABD Capixaba), a 14ª Mostra Produção Independente – Resistências será realizada, no Cine Jardins, em Vitória, e além da exibição dos filmes em competição contará com sessões paralelas com filmes convidados; debates com realizadores; homenagem; a 5ª reunião do Fórum do Audiovisual Capixaba; o lançamento e Revista-Catálogo Milímetros nº 9 e do DVD-Coletânea com os filmes selecionados para a Mostra Competitiva.