Antes da ABD

A necessidade da criação de uma entidade que defendesse os interesses do setor audiovisual no Espírito Santo já era sentida algumas décadas antes da criação da ABD Capixaba. Realizadores se recordam de tentativas ocorridas nos anos 80 e 90.

O cineasta Marcos Veronese cita a Academia Alternativa de Letras e Imagem (ALE), entre 1983 e 1984, que não vingou. A produtora cinematográfica Leandra Moreira se recorda de outra tentativa – o Núcleo de Cinema (NUC), localizado no Centro de Vivência da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no final dos anos 90. Até a criação da ABD Capixaba, muitos realizadores participavam ativamente do Sindicato dos Artistas e Técnicos do Espírito Santo (Sated-ES) e mesmo após a criação da entidade alguns ainda continuaram ativos no sindicato, principalmente aqueles que atuavam e dirigiam, como Luiz Tadeu Teixeira.

Os anos que antecederam a criação da ABD Capixaba marcaram um período de intensa atividade audiovisual no Espírito Santo. Estávamos na virada do milênio e a ideia de que a década de 90 havia sido a década perdida para as artes não se aplicava ao Espírito Santo. Enquanto a produção audiovisual no Brasil passava por um período difícil devido à extinção da Embrafilme, nosso estado despontava como um provável Polo Audiovisual [Link para reportagem sobre o tema], financiando quatro longas-metragens de diretores nacionais, entre eles um capixaba: O Amor Está no Ar, de Amylton de Almeida (1997) [Link para cartaz]. Os outros três longas foram Vagas para Moças de Fino Trato, de Paulo Thiago (1993); Lamarca, de Sérgio Rezende (1994); e Fica Comigo, de Tizuka Yamazaki (1996).O polo também patrocinou um único curta – A Miragem das Fontes (1990), de Gelson Santana.

Havia uma intenção clara do Governo do Estado de investir no setor audiovisual e entre 1995 e 1997 o então Departamento Estadual de Cultura (DEC) produziu dois cursos de realização cinematográfica que resultaram em dois filmes – o primeiro deles foi Gringa Miranda [link para foto ou filme], que lançou nomes como Gabriela Egito, Marcos Figueiredo, Ricardo Sá, Carlos Augusto Oliveira, José Soares Magalhães e Glecy Coutinho; o segundo foi Labirintos Móveis [link para foto ou filme}, que lançou Ursula Dart, Luciana Gama, Lizandro Nunes, Erly Vieira Jr., Vanessa Frisso, Renato Carniato, Alexandre Serafini, Virginia Jorge, Tatiana Martinelli, entre outros.

Os cursos foram coordenados por Valentina Krupnova que, na época, era funcionária do setor de cinema do DEC. Os professores eram profissionais de cinema do Rio de Janeiro, como José Jofilly (direção), César Elias (fotografia) e Edwaldo Myrink (som). Os equipamentos de filmagem em 16 mm eram cedidos pelo Centro Técnico Audiovisual da Fundação Nacional de Artes (CTAv/Funarte) e a finalização era feita no Rio de Janeiro. Como na época não havia curso universitário ou técnico de audiovisual no Espírito Santo, essa experiência do filme-escola foi, para muitos, o primeiro contato com o mundo do cinema, pois oferecia a possibilidade de se trabalhar com os mesmos equipamentos que eram utilizados em produções independentes em outros estados brasileiros, fazendo sonhar nossos cineastas.

Essa turma logo se lançou em seus próprios projetos. O mais vitorioso deles foi Macabéia (2000), de Erly Vieira Jr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge, que fez uma brilhante carreira em diversos festivais nacionais, arrematando prêmios no Festival de Gramado e no de Brasília – as duas principais vitrines cinematográficas do Brasil.

Enquanto o Governo do Estado investia no Polo de Cinema e nos cursos de realização cinematográfica, um outro mecanismo de produção atendia a demanda dos realizadores – a Lei Rubem Braga, da Prefeitura de Vitória. A maioria dos curtas-metragens capixabas feitos entre 1990 e 2008 foram patrocinados por essa lei, embora durante alguns períodos da década de 90 os recursos concedidos tenham sido insuficientes para a realização de um filme, o que deixou muitos projetos na prateleira, em busca de apoio para sua finalização.

Em 1996, alguns realizadores se juntaram para buscar apoio junto à Secretaria de Estado da Cultura para a finalização de seus curtas [ver+] . Em 2001, já com a ABD Capixaba criada, tal movimento se repetiu com outros seis filmes.

Ursula Dart, produtora de um dos filmes da lista, relembra o clima da época. “Falávamos da importância de termos vários curtas ao mesmo tempo, pois assim poderíamos causar algum impacto nos grandes festivais de cinema brasileiro. Era a nossa guerrilha do volume. Queríamos apresentar muitos para que um, pelo menos, fosse selecionado. Nossa briga era por visibilidade. Acreditávamos que fazendo ‘sucesso’ em outros estados, aqui nos valorizariam”, lembra.