12ª Mostra Produção Independente – Aldeias

A 12ª Mostra Produção Independente – Aldeias foi realizada entre os dias 28 e 31 de agosto de 2017. A inspiração para o tema da Mostra veio do poema “Da minha Aldeia” de Fernando Pessoa, com pseudônimo de Alberto Caeiro: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo / Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, / Porque eu sou do tamanho do que vejo / E não do tamanho da minha altura”.

Encontro tradicional da cena audiovisual local, a continuidade da Mostra Produção Independente diz muito sobre a trajetória que a produção audiovisual local percorreu especialmente na última década.

Durante quatro dias, o público pôde assistir 19 produções de diversos gêneros –  documentário, videoarte e videoclipe que concorreram em categorias definidas peloJúri, com prêmio com serviço de Encode DCP (20 minutos) da Link Digital e cursos da IATEC.

Toda a Mostra aconteceu no Cine Metrópolis/Ufes-Campus Goiabeiras, em Vitória.

Além da Mostra Competitiva Capixaba, esta edição contou com Mostra Paralela, lançamentos da 7ª edição da Revista Catálogo Milímetros e do DVD Coletânea da Mostra e o 3º Fórum do Audiovisual Capixaba.

Cerca de 80 produções foram inscritas na Mostra Competitiva, sendo 27 documentários, 26 ficções, 7 animações e 20 videoclipes, videoartes e filmes experimentais. E a escolha foi feita por uma Comissão de Seleção formada pela produtora Leandra Moreira, pelo diretor Alexandre Serafini e pela diretora e editora Iza Rosenberg. De acordo com Alexandre Serafini, ficou evidente a qualidade e o acabamento técnico das produções – o que dificultou o trabalho da seleção. “Principalmente entre os documentários comparecem filmes que fazem resgates históricos sobre as memórias familiares e locais, também lançam um olhar sobre questões da realidade atual, sobre a nossa aldeia, podemos dizer”.

Logo após as exibições aconteceram debates com os realizadores. Essa proposta de debate após as sessões foi um dos sucessos da edição, garantindo a presença do público e dos realizadores, sem contar que todos os presentes estão com os filmes bastante vivos na memória.

Mostra​ ​Paralela​ ​Nacional teve o tema Novos​ ​jeitos​ ​de​ ​fazer​ ​cinema e exibiu filmes realizados de forma inovadora e que percorreram caminhos poucos convencionais para chegar até o público. Foram exibidos dois curtas e a um média-metragem que, de maneira contundente, apresentavam temáticas políticas e que foram viabilizadas via modelos alternativos de produção ou de distribuição. Os filmes exibidos foram as produções paulistas “Quando Parei De Me Preocupar Com Canalhas”, ficção amplamente premiada de Tiago Vieira, e “Casa da Xiclet”, documentário de Sofia Amaral – ambas financiadas via crowdfunding. E o o média-metragem “#Resistência”, da capixaba Eliza Capai, que fez uso de uma plataforma na web para promover uma distribuição gratuita e descentralizada e foi lançado em 70 lugares, incluindo exibições
fora do país.

A homenagem​ de 2017 foi para ​ ​Valentina​ ​Krupnova. Com quase 70 anos, Valentina foi a responsável por proporcionar a primeira formação prática na área cinematográfica para uma geração de profissionais do cinema capixaba ao coordenar duas turmas do Curso de Realização Cinematográfica nos anos de 1994 e 1997 que resultaram em dois curtas-metragens: Gringa Miranda, lançado em 1997, e Labirintos Móveis, lançado em 1998, ambos com direção coletiva.

Em 2014, lançou o curta-metragem ficcional Nega do Ébano, onde ela assume a autoria individual da obra.
A Comissão de Júri da Mostra Competitiva foi formada pela professora e pesquisadora Daniela Zanetti, pelo produtor e diretor Felipe Redins, e pela produtora e diretora de arte Joyce Castello.

Entre os 19 filmes em competição, seis produções foram premiadas. O Prêmio Especial do Júri foi para “Hic”, de Alexander Buck, curta-metragem de 15 minutos que se vale do realismo fantástico e insólito para evidenciar o racismo cotidiano na ilha de Vitória. No filme, um maratonista africano ganha a capacidade de se teletransportar, o que atrai os olhos da mídia internacional. O júri justificou o mérito da premiação à originalidade do roteiro, à experimentação da linguagem e o modo inovador como o tema do racismo foi abordado.

Foram contemplados com o Prêmio Destaque os curtas-metragens “Hotel Cidade Alta”, “Divina Luz” e “Córrego Grande, 13”. Filme que já circulou por algumas mostras nacionais, “Hotel Cidade Alta”, de Vitor Graize, foi premiado pela qualidade técnica e pela experimentação narrativa que mescla ficção e realidade de modo bastante autoral. No documentário “Divina Luz”, o veterano Ricardo Sá teve o mérito de empreender uma intensa pesquisa de arquivo e utiliza de soluções audiovisuais criativas para resgatar a história de uma importante figura feminina: a bailarina e naturista Luz del Fuego. No documentário “Córrego Grande, 13”, um excelente trabalho de som e de fotografia e uma montagem propícia à reflexão expressam a intimidade entre a diretora Carol Covre e seus avós em conversas sobre a memória e o pertencimento.

Receberam o Prêmio Incentivo os documentários “Como Areia do Mar”, de Raphael Sampaio, curta que discute a fragilidade da memória humana tendo como interlocutoras mulheres idosas com alzheimer; e “Transvivo”, de Tati W. Franklin, que chamou a atenção pelo modo como aborda um tema urgente na sociedade – a transexualidade – ao aproximar os personagens principais – dois jovens transexuais – do público usando o dispositivo do auto-registro.

Presente na Cerimônia, a diretora Tati W. Franklin ressaltou a importância da premiação para a carreira do filme, para a militância e para a vida profissional de toda equipe envolvida na produção do curta: “Dedico esse prêmio a todos os realizadores, ao Izah e ao Murilo (personagens do documentário). Agradeço a toda equipe do filme e à Mostra, foram momentos intensos. Vida longa à ABD!”.

O Júri da Mostra também concedeu duas Menções Honrosas: para “O Polígono”, de Caio Fabricius, e para “No Caminho da Escola”, dos Alunos do Projeto Animação. Essa Mostra teve patrocínio do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) e contou com o apoio da Universidade Federal do Espírito Santo, por meio de sua Secretaria de Cultura, do Iatec, da Link Digital, da Livres Filmes, da Comunicação Impressa e da TV Gazeta.