Na noite dessa quinta-feira (05), a 13ª Mostra Produção Independente reuniu realizadores e amantes do cinema capixaba no Cine Jardins para celebrar os vencedores da Mostra Competitiva e homenagear a grande atriz capixaba Suely Bispo. Os filmes exibidos na mostra ao longo da semana estão presentes no DVD Coletânea que foi distribuído gratuitamente entre o público.
Entre videoclipes, documentários, ficções e filmes experimentais, a Mostra Competitiva exibiu 25 curtas de realizadores capixabas iniciantes, veteranos e amadores e, assim, o público pode conhecer um panorama da produção audiovisual do Espírito Santo. Os vencedores da Mostra Competitiva com o Prêmio Destaque: a animação O Projeto do Meu Pai, de Rosaria; e o híbrido Ano Passado Eu Morri, de Rodrigo de Oliveira. O Prêmio Livres Filmes, que consiste em um plano de distribuição, ficou com o documentário Rio das Lágrimas Secas, de Saskia Sá, que também foi condecorado com uma Menção Honrosa, junto ao videoclipe Solveris – Cherry Blossom, de Junior Batista; e à animação Sobre a Gente, realizado por alunos do projeto Animação/Núcleo Animazul.
Outros três filmes arremataram o Prêmio Incentivo: o videoclipe Teresa, de Erika Mariano; o documentário Água Viva, de Barbara Ribeiro – ambos contemplados com cursos de aperfeiçoamento do Instituto de Artes e Técnicas em Cinema (Iatec); e a ficção A Mulher do Treze, de Rejane Arruda – contemplado com serviço de Encode para DCP da Link Digital. “Nossa, eu tô muito feliz, queria agradecer à ABD por esse prêmio…eu realmente não esperava, porque é o meu primeiro trabalho como diretora, então, é uma surpresa muito boa”, comenta a realizadora Erika Mariano.
A Comissão do Júri da Mostra Competitiva foi formado pela produtora e diretora de fotografia Ursula Dart, pela pesquisadora doutora em cinema Maria Inês Dieuzeide, e pelo roteirista e diretor André Félix.
Homenagem a Suely Bispo
Com o cinema lotado, a homenageada da noite recebeu o carinho do público e assistiu ao vídeo que recupera sua trajetória, produzido exclusivamente para a noite de ontem pela cineasta Caroline Covre. Atriz, poeta e ativa militante do movimento negro, Suely Bispo conquistou o Brasil com seu jeito tímido, talento e personalidade. Somando uma trajetória de três décadas nos palcos capixabas e mais de 20 trabalhos no cinema, a atriz estreou recentemente na novela “Velho Chico”, de Luiz Fernando Carvalho, exibida na TV Globo.
No final dos anos 80, Suely participou do Grupo Raça, organização que congregava estudantes e militantes negros na Ufes. Em 2012, atuou como a primeira coordenadora do Museu Capixaba do Negro – Verônica Pas após sua reforma e restauração. “Eu me sinto grata e muito emocionada… eu não tinha a exata dimensão dessa minha importância no cinema. E não foi fácil, não é fácil ser mulher negra neste país, a gente sabe que as oportunidades não são as mesmas, mas a gente tem mesmo que ocupar esses espaços para mostrar a verdadeira cara do Brasil”, comenta Suely.
Mostra Paralela
Antecedendo a homenagem, o público ainda pôde conferir os filmes da Mostra Paralela, uma seleção que reflete as novas formas de pensar e fazer cinema no Brasil. Fazem parte dessa seleção três curtas-metragens, sendo dois documentários e um videoclipe. Canto da Mulher Quilombola, de Xis Makeda, registra os cantos ancestrais e o protagonismo de mulheres quilombolas da região do Sapê do Norte, no Espírito Santo; Mulheres de Barro, de Edileuza Penha de Souza, versa também sobre a ancestralidade feminina, mas em outro grupo, o das paneleiras da região de Goiabeiras, portadoras da saber reconhecido como o primeiro patrimônio imaterial do Brasil. Também compõem a mostra O Golpe, de Marcos Luppi, videoclipe de rap do trio Marcos Luppi, MC’s Koayá e MFive que, em tom de denúncia, faz uma relação entre o golpe político da democracia e as injustiças sociais cotidianas que sofrem os grupos menos privilegiados da sociedade.
Uma realização da ABD Capixaba, a 13ª Mostra Produção Independente – Novos Rumos tem o patrocínio do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) e conta com o apoio da Universidade Federal do Espírito Santo, por meio de sua Secretaria de Cultura, do Iatec, da Link Digital, da Livres Filmes, da Comunicação Impressa e da TV Gazeta.
PREMIAÇÃO – MOSTRA COMPETITIVA CAPIXABA
PRÊMIO DESTAQUE
Ano Passado Eu Morri, de Rodrigo de Oliveira (Híbrido, 25’30”, 2017, 12 anos) – “Pela delicadeza e inventividade. Concebe o cinema como um meio supremo de expressar o tempo e trata a vida como uma experiência para além da duração.
O Projeto do Meu Pai, de Rosaria (Animação, 5’, 2016) – “Por aliar sensibilidade e domínio técnico em um belo filme confessional. Um drama filmado como comédia e uma comédia filmada como drama, segredo dos grandes filmes”.
PRÊMIO INCENTIVO
A Mulher do Treze, de Rejane Arruda (Ficção,16’, 2017) – “Pelo estudo sobre uma ideia original, pela capacidade de agregar ao projeto o melhor de cada equipe e, principalmente, pelo dedicado trabalho na pesquisa e direção de elenco”.
Água Viva, de Bárbara Ribeiro (Documentário, 13’05”, 2018 – “Pela abordagem íntima e original ao tema e às personagens, e pela consciência crítica que transparece na construção dos planos e depoimentos, desvendando com cuidado o cotidiano e o corpo feminino”.
Teresa, de Erika Mariano (Videoclipe, 2’35”, 2017) – “Pela investigação do universo musical onde transita, que resulta numa coerente elaboração formal e temática”.
PRÊMIO DA LIVRES FILMES
Rio das Lágrimas Secas, de Saskia Sá (Documentário, 25’, 2018, Livre)
MENÇÕES HONROSAS
Sobre a Gente, dos alunos do Projeto Animação/ Núcleo Animazul (Animação, 7’47”, 2017) – “Pela pesquisa e inventividade no uso dos materiais e técnicas da animação, que trazem frescor e diversão para o curta, e pelo importante espaço de formação, que pode abrir universos na infância”.
Rio das Lágrimas Secas, de Saskia Sá (Documentário, 25’, 2018) – “Por trazer um tema urgente e por apresentar ao público personagens que resistem à política do nosso país, concedemos Menção Honrosa ao filme Rio das lágrimas secas”.
Solveris – CherryBlossom, de Junior Batista (Videoclipe, 4’19”, 2017) – “Pela excelência técnica e pelo domínio do gênero em sua lógica e intenção”.
FOTOS: Luara Monteiro