Diversidade na telona: Cine Metrópolis sedia segunda semana da Pós-Mostra Novos Rumos

Nesta sexta-feira (13) e sábado (14), a faixa de programação bônus da 13ª Mostra Produção Independente – Novos Rumos apresentará um extrato dos novos olhares na produção de cinema brasileiro contemporâneo. As sessões são gratuitas! (Acima, imagem da ficção Braços Vazios, de Daiana Rocha)

Discutir e evidenciar a participação de negros, mulheres e pessoas LGBTQI+ na produção do cinema brasileiro é a proposta da Pós-Mostra Novos Rumos da ABD Capixaba que acontece no Cine Metrópolis/Ufes Campus Goiabeiras, em Vitória. Na sexta-feira (13), às 19h, será exibido o longa-metragem Meu Corpo é Político, de Alice Riff. No sábado (14), serão exibidos sete curtas-metragens e a sessão acontece às 16h, seguida de debate com a presença de alguns dos realizadores e a mediação será feita por Diego de Jesus e Hegli Lotério, curadores da Pós-Mostra Novos Rumos. A entrada é franca!

A PósMostra Novos Rumos demonstra como é fundamental a diversidade de pontos de vista construídos e presentes nas produções cinematográficas. Para isso, esta janela traz um pequeno panorama de filmes recentes nacionais que evidenciam os resultados das políticas afirmativas de acesso aos meios de produção. Mulheres, negros e LGBTQI+ são os protagonistas na representação e na construção das suas próprias imagens.

Com a curadoria de Diego de Jesus e Hegli Lotério, a Pós-Mostra Novos Rumos filmes de diferentes estéticas e temas, financiados por editais de cultura ou coletivamente em diferentes regiões do país, a maioria dos filmes conta com a direção de mulheres negras e evidenciam a importância da subjetividade do olhar de quem filma.

Sobre os filmes

O único longa-metragem da mostra, Meu Corpo é Político, de Alice Riff, é um documentário que acompanha quatro militantes trans da periferia de São Paulo e atualiza questões contemporâneas do movimento LGBTQI+ e suas disputas políticas: Linn da Quebrada, artista e professora de teatro; Paula Beatriz, diretora de escola pública no Capão Redondo; Giu Nonato, jovem fotógrafa em fase de transição; e Fernando Ribeiro, estudante e operador de telemarketing. A câmera de Alice Riff conduz o olhar do espectador pelas narrativas diárias desses personagens para levantar questões sobre temas relevantes do contemporâneo como transgênero, representatividade social e identidade de gênero.  

Com uma perspectiva original sobre o tema ao fugir dos padrões recorrentes e não retratar transgêneros e travestis em situações de violência e prostituição, o filmes foi construído conjuntamente com os personagens, por isso a opção de um documentário controlado, no qual as cenas são encenadas por eles próprios a partir da vivência de cada um, em busca desse “corpo político”.

No curta Historiografia, de Amanda Pó, o espectador é convidado, de maneira inventiva e irônica, a um exercício impactante de recontar episódios da história da arte e da ciência pela perspectiva de quem nunca pôde contá-la. A partir de recortes sobre alguns “gênios” da cultura ocidental, a diretora evidencia o quanto, mesmo em uma sociedade regida pela meritocracia, o privilégio masculinista suplantou a genialidade de mulheres brilhantes. Em Travessia, Safira Moreira, a importância de reconstruir-se a memória das famílias negras. De maneira performática e delicada, esse documentário contrapõe o modo como o racismo também cerceia as pessoas negras de construírem sua autoimagem. Auto-representação também é uma temática presente em Revejo, de Láisa Freitas, documentário que nos leva a perceber a construção entre passado, presente e futuro da mulher negra ao redescobrir seu corpo numa perspectiva contemporânea.

Na ficção A Boneca e o SIlêncio, de Carol Rodrigues, os efeitos da criminalização do aborto são narrados a partir do olhar de uma jovem com uma gravidez indesejada. Nesse curta, a adolescente grávida é vítima e também protagonista da autonomia sobre seu corpo e história nos apontando para um novo horizonte do corpo feminino.

Em Braços Vazios, de Daiana Rocha, a abordagem dos efeitos colaterais do genocídio dos corpos negros reforça uma mensagem urgente no Espírito Santo: vidas negras importam. O extermínio e a criminalização da juventude negra é o tema da ficção, Chico, dos Irmãos Carvalho, curta que utiliza o gênero afrofuturismo para criar um imaginário de resistência quando jovens negros são sequestrados por um Estado opressor em níveis jamais vistos.

Em Superpina, de Jean Santos, é o imaginário de consumo que é ressignificado por meio de uma protagonista que começa a trabalhar em um supermercado. Com um roteiro que, por vezes aproxima a narrativa do insólito, essa ficção expressa uma estética musical com pitadas de comédia, drama, suspense e ficção científica. A narrativa é marcada por um ritmo e por cortes próximos da linguagem do videoclipe.

A PósMostra Novos Rumos encerra a programação da semana da 13ª Mostra Produção Independente realizada pela ABD Capixaba e conta com o apoio da Universidade Federal do Espírito Santo, por meio de sua Secretaria de Cultura, e da Comunicação Impressa.

 

PROGRAMAÇÃO DA PÓS-MOSTRA NOVOS RUMOS

Local: Cine Metrópolis/Ufes Campus Goiabeiras, Vitória

ENTRADA FRANCA!

 

SEXTA-FEIRA (13/07)
Horário: 19 horas

Meu Corpo É Político, de Alice Riff (documentário, 71’, 2017, 12 anos, São Paulo)
Meu corpo é político aborda o cotidiano de quatro militantes LGBT que vivem em periferias de São Paulo. A partir da intimidade e do contexto social dos personagens, o documentário levanta questões contemporâneas sobre a população trans  e suas disputas políticas.

SÁBADO (14/07)
Horário: 16 horas (exibição seguida de debate com alguns dos realizadores e com os curadores Diego de Jesus e Hegli Lotério)

Historiografia, de Amanda Pó (documentário, 3’40”, 2017, São Paulo, Livre)
Quem escreveu a História, na qual homens são sempre protagonistas?

Travessia, de Safira Moreira (documentário, 5’, 2017, Rio de Janeiro, Livre)
Utilizando uma linguagem poética, Travessia parte da busca pela memória fotográfica das famílias negras e assume uma postura crítica e afirmativa diante da quase ausência e da estigmatização da representação do negro.

A Boneca e O Silêncio, de Carol Rodrigues (ficção, 19’, 2015, São Paulo, 14 anos)
A solidão de Marcela, uma menina de 14 anos, que decide interromper uma gravidez indesejada.

Braços Vazios, de Daiana Rocha (ficção, 16’, 2018, Espírito Santo, 14 anos)
Vera é uma mãe que perdeu seu filho, Carlos, de forma trágica. Ela não consegue se recuperar do trauma e se apega às lembranças numa tentativa de amenizar seu sofrimento. Até que um dia Vera encontra um bilhete que a obriga a fazer uma escolha.

Chico, dos Irmãos Carvalho (ficção, 23’, 2017, Rio de Janeiro, 12 anos)
2029. Treze anos depois de um golpe de Estado no Brasil, crianças pobres, negras e faveladas são marcadas em seu nascimento com uma tornozeleira e têm suas vidas rastreadas por pressupor-se que elas irão, mais cedo ou mais tarde, entrar para o crime. Chico é mais uma dessas crianças. No aniversário dele, é aprovada a lei de ressocialização preventiva, que autoriza a prisão desses menores. O clima de festa dará espaço a uma separação dolorosa entre Chico e sua mãe, Nazaré.

Revejo, de Láisa Freitas (documentário, 19’10”, 2017, Espírito Santo, Livre)
Identidades Negras são construídas coletivamente. Revejo é um filme sobre tornar-se negra e rever a si mesma de forma contemplativa. Com Anita Freitas dos Santos, Cecília Freitas dos Santos, Tamyres Batista, Ana Clara Chagas da Silva, Daiana Rocha, Danúsia Peixoto, Elaine Vieira, Hegli Lotério, Léia Rodrigues, Luiza Vitório, Marlene de Oliveira, Naira Valente, Sandra Chagas, Sonia Rodrigues da Penha e Valentina Matos Ferreira.

Superpina, de Jean Santos (Ficção, 28’, 2017, Pernambuco, 16 anos)
Paula é uma jovem criativa que faz “bicos” como fotógrafa e também atua como cantora em um restaurante chamado “Boca da Noite”. Seu currículo é selecionado para trabalhar no “Superpina”, um pacato supermercado no coração do bairro do Pina. Entre prateleiras e estoques, clientes e funcionários irão experimentar o “Amor Primo”.